quarta-feira, 7 de julho de 2010

Transformação na paisagem do Bico do Monte


O “Bico do Monte” está diferente. Para pior. A principal sala de visitas de Albergaria está despida e mais pobre. Muitas árvores – algumas delas com décadas de existência – foram decepadas e recolhidas. O cenário chega a ser devastador, agora que o desmazelo acumulado ao longo de anos foi irreversivelmente desmascarado. Para exaltar a ironia da situação, sobra uma mesa, abandonada naquele monte de nada, longe de usufruir da sombra de outros verões que acolheu numerosas famílias em farnéis entretanto celebrizados pela memória colectiva.


Há muito que tenho pugnado por uma intervenção deliberadamente estruturante, que reabilite e projecte a Senhora do Socorro para dimensão mais compatível com a História, a singularidade do lugar e as (legítimas) aspirações da população que ali aprendeu a ver e a sentir uma referência da sua terra.

Contudo, o tempo tem confirmado o declínio d’ ”O Bico do Monte”. Não se percebe bem porquê, mas o certo é que o par de palavras que melhor resumirá a situação reinante no último quartel de século se confina à explosiva combinação da estagnação com a degradação.

Aliás, e em jeito de prevenção, alerto para o estado da ponte ali existente, bem visível no seu interior (vide fotos), devendo juntar-se o estado miserável dos acessos à capela.

Não são pinturas de sanitários que apagam o sentimento de mágoa que parece perpassar a opinião pública albergariense.
Contudo, e porque a informação escasseia, o tom da crítica não pode ser muito contundente. E é também por isso que importaria dar resposta a algumas questões:

- Quem e que circunstâncias ditaram o corte de árvores?
- Que objectivos motivaram esta decisão?
- No caso de esta iniciativa não passar de uma antecâmara para uma abordagem mais ampla, o que se pretende ao certo fazer e que cronograma de procedimentos foi definido?
- Em alternativa, se este corte de deveu à vontade de terceiros, que contrapartidas foram asseguradas e que diligências estão programadas para repovoar a extensa área ora deserta?
Se a Senhora do Socorro é do Povo, deve, em consequência, fomentar-se uma gestão clara e partilhada do seu património, seja ele material ou natural.


Quando o mês de Junho estava prestes a acabar, a bancada do PS na Assembleia Municipal suscitou a questão dos trabalhos que foram levados a cabo na Senhora do Socorro, tentando - segundo se percebeu - obter resposta para algumas das questões que também aqui formulei, em post datado de 7 de Junho. A saber:
- Quem e que circunstâncias ditaram o corte de árvores?
- Que objectivos motivaram esta decisão?
- No caso de esta iniciativa não passar de uma antecâmara para uma abordagem mais ampla, o que se pretende ao certo fazer e que cronograma de procedimentos foi definido?
- Em alternativa, se este corte de deveu à vontade de terceiros, que contrapartidas foram asseguradas e que diligências estão programadas para repovoar a extensa área ora deserta?» (SIC)

Segundo consta, parece que João Agostinho Pereira [Presidente da Câmara] terá reagido mal, não tendo sido capaz de disfarçar o desconforto que as perguntas lhe terão causado. Terá afiançado desconhecer a intervenção que ali foi levada a cabo, enfatizando que tal matéria não seria da sua competência até porque o "Bico do Monte" não é propriedade autárquica.

Em qualquer dos casos, o cidadão comum registará a aparente falta de articulação entre as partes como se a Senhora do Socorro fosse porventura um assunto menor.

Em complemento, o edil terá recordado a existência de um Plano de Pormenor já aprovado para aquela importante sala de visitas. Neste particular, importaria saber:

O abate de árvores respeitará o inserto no referido Plano de Pormenor?
Em que fase de desenvolvimento/execução do Plano estaremos? (A menos que - claro está - o destino destes ou de outros Planos se confine aos abafados ambientes de gavetas escuras e profundas...)
Que acompanhamento/monitorização tem sido dispensado à prossecução do supra mencionado Plano?
Entretanto, o "Bico do Monte" pouca evolução registou. Algumas ladeiras íngremes terão sido reconstruídas, mas as sombras e as mesas foram-se. Temo que estes "trabalhos" visem unicamente proporcionar melhores condições aos vendedores que ali se acotovelam no período das festividades, a realizar no terceiro fim de semana de Agosto.

No mais, registo, com preocupação e surpresa, a aparente falta de exigência e de consciência cívica da opinião pública albergariense perante o estado a que chegou a Senhora do Socorro.

José Manuel Alho / Blog ALHO politicamente incorrecto, 07/07/2010

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